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Orçamentação:
como o fazer?

Neste artigo levamos-te passo a passo pelo processo de criar um orçamento, desde calculares os teus gastos e despesas, analisares a comunidade em que te inseres, perceber o mercado e o projecto em causa e criar o teu próprio documento de orçamentação.

Classe B 28 Novembro, 2021 Leitura de 6 min.
  • Gestão
  • Legal

Introdução

Fazer um orçamento nem sempre é uma tarefa fácil. Muitos de nós fomos formados em instituições que nos “treinaram” para trabalhar por conta de outrem, ignorando sempre questões financeiras e legais directamente relacionadas com o trabalho e o nosso valor no mercado.

Fazer um orçamento nem sempre é um percurso linear. É importante ter uma fórmula base, mas ao mesmo tempo deixar algum espaço para a adaptares caso a caso e, acima de tudo, permitir que seja um valor dinâmico, que vai crescendo com o tempo e com a tua experiência.

Os teus gastos

Antes de mais, é importante teres plena consciência daquilo que são as tuas despesas, tanto profissionais como pessoais:

  • Deves ter sempre presente que percentagem do teu ordenado e dos teus ganhos vão ser descontados em impostos e contribuições. Este valor pode ser calculado tendo em conta a retenção na fonte de IRS e a fórmula de cálculo da contribuição à Segurança Social.
  • Conta sempre com os teus gastos como profissional, ou seja, o valor que gastas no aluguer de um espaço ou em compra de material, formação, custos de deslocação, estadias e alimentação durante o período de trabalho.
  • Nunca te esqueças do valor que precisas para as tuas necessidades pessoais. O valor para a renda da casa e respectivas despesas, alimentação, compras ou gastos com os teus filhos são factores que deves ter sempre em conta quando defines o valor do teu trabalho.
  • Por fim, deves destinar um valor a um fundo de emergência ou para poupanças.

Quando definires qual o valor base que precisas para subsistir e que te vai saldar os gastos assinalados acima, começas então a perceber: qual o valor mínimo que devo cobrar pelo meu trabalho?

A partir desse valor, torna-se mais fácil quantificares o teu trabalho. Aqui podes seguir várias modalidades. Pode ser que o teu trabalho seja facilmente dividido em tarefas ou fases e que consigas atribuir a cada uma delas um valor-chave. Ou pode acontecer que vejas o teu trabalho como uma unidade, à qual vais adicionando ou retirando determinadas características que o tornam mais ou menos caro.

Percebe o modelo que funciona melhor para ti e para a tua área.

A tua comunidade

Neste momento, pode ser interessante abrires o diálogo com pessoas da tua área. Existem comunidades que são mais ou menos receptivas a falar de dinheiro e, e por vezes, torna-se difícil perceber o valor médio que a comunidade cobra. É essencial que lutes para atenuar este tabu. Uma comunidade mais transparente é sinal de uma comunidade mais saudável, mais compreensiva consigo mesma e, acima de tudo, mais digna e unida.

Procura falar com conhecidos, colegas e amigos, com pessoas com graus de experiência diferentes ou até com pessoas de outras áreas, de forma a comparares métodos distintos de abordar a mesma questão.

Embora as instituições mais tradicionais evitem falar sobre estes temas, existem por vezes professores ou formadores que estão disponíveis a responder a estas questões. Aproveita esse conhecimento e essa experiência e não deixes de perguntar como se ultrapassam estas questões.

Existem até áreas em que a partilha de conhecimento, não só é uma prática comum, como é abertamente aconselhada. Por exemplo, existem unidades de formação em áreas específicas de venda de produtos e bens, que dão aconselhamento financeiro nestas questões basilares, ensinando os formandos a fazerem um orçamento ou a terem o seu negócio legalizado.

Esta partilha de conhecimento dentro da comunidade ou entre formandos e formadores é essencial, uma vez que te ajuda a teres uma garantia de que o valor que definiste é justo para ti, e que não estás a desvirtuar o mercado, contribuindo para o nivelamento dos preços por baixo, ao mesmo tempo que pode funcionar como veículo de dinamização da tua área para que os preços possam ir sendo questionados e actualizados ao longo do tempo.

Por fim, nunca é demais lembrar: a maioria dos clientes que vais encontrar vai procurar o preço mais barato possível e vai tentar negociar a tua proposta – não uses os teus clientes como forma de medir o teu preço!

O teu projecto

Em relação ao trabalho em si, é importante que consigas perceber com exactidão o pedido que te está a ser feito. Existem briefings mais ou menos detalhados por parte do cliente, e é importante que os analises com cuidado e consigas levantar possíveis questões que te façam esclarecer melhor o que pretendem e o que esperam de ti. Se possível, tira uns momentos para falares directamente com o cliente e perceberes algumas questões:

  • É um projecto que faça sentido para ti aceitar?
  • Existe algum intervalo de valores já estipulado para o orçamento?
  • Existe algo que pretendas sugerir como alteração ao briefing inicial?
  • Vais receber todos os materiais ou informações necessárias ao projecto num formato sirva o teu trabalho?
  • Existe algum prazo ou data final já definida?
  • Se sim, é necessário adicionar uma taxa de urgência? É viável cumprir? E vale a pena cumprir?

Com estas perguntas respondidas, vais conseguir dar um orçamento muito mais acertado e adequado ao projecto em si.

As tuas condições

Depois de pesados todos estes factores, tens informação suficiente para definir o teu orçamento. É importante que este seja um documento oficial. Não dês preços finais por telefone ou em conversa. É imperioso que exista um documento, e que este detalhe ao máximo o tipo de projecto que terás em mãos e os respectivos custos e taxas associadas. Este documento não te protege só a ti, é também importante para o cliente perceber com detalhe aquilo que irá receber como produto final.

Importa também teres uma secção de termos e condições. Defende-te a ti e ao teu trabalho registando questões como:

  • A data até à qual o orçamento é válido;
  • O que nele está incluído e excluído;
  • Como serão geridas alterações ao escopo do trabalho, esforços extra, alterações aos prazos estipulados;
  • De que materiais, conteúdos ou documentação necessitas para dar como iniciado o projecto;
  • As formas como o pagamento deverá ser efectuado (em partes e/ou em que momentos do projecto).

Procura que, caso o cliente aprove os valores que propões, também esteja ciente das condições inerentes a essa aprovação.

Depois da entrega do orçamento, resta-te esperar que este seja bem recebido pelo cliente.

Caso não recebas resposta, tenta dar seguimento e falar directamente com o cliente. Caso isto não aconteça, e acredita que é algo mais comum do que aquilo que gostamos de admitir, tenta perceber o porquê. Se o cliente pretender negociar o preço, tenta perceber em que moldes e se te interessa entrar nesse processo.

O teu futuro

A partir daqui, e projecto a projecto, repensa sempre os teus valores. Procura actualizar os teus valores anualmente: se não aumentares, pelo menos tira algum tempo para os analisares.

Existem já algumas iniciativas de projectos que procuram expor as suas condições e contratos de trabalho com clientes. Podes ver um (óptimo) exemplo do estúdio de design Mano a Mano aqui.

Estuda o teu mercado, conversa com colegas, profissionais da mesma área ou fora dela.

Muitas vezes os preços são um tema totalmente tabu, mas não têm de o ser.

São uma parte integrante e essencial da vida de profissional. Não há como fugir, então o melhor é estares bem informado.

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